Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção
O livro “Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção” (em inglês: “Decoding the DNA of the Toyota Production System”) é uma leitura essencial para quem deseja entender os fundamentos e as práticas do Sistema Toyota de Produção (STP), que é uma metodologia de manufatura desenvolvida pela Toyota Motor Corporation. Esse sistema é conhecido por sua eficiência e eficácia, contribuindo significativamente para o sucesso global da empresa.
ARTIGO: Introdução – Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção (Steven Spear e H. Kent Bowen)
“Há muito tempo que o Sistema Toyota de Produção vem sendo aclamado como a origem do espetacular desempenho da Toyota como fabricante. As práticas diferenciadas do sistema – seus kanbans e círculos da qualidade, por exemplo – foram amplamente introduzidas em toda parte. De fato, depois de seus esforços internos para atingir esse nível de desempenho, as melhores empresas fabricantes do mundo introduziram iniciativas importantes para desenvolver sistemas de produção semelhantes ao da Toyota. As empresas que tentaram adotar o sistema atuam em campos tão diferentes como aeroespaço, bens de consumo, metalurgia e produtos industriais.
O curioso é que poucos fabricantes têm conseguido imitar a Toyota com sucesso – embora a empresa seja extraordinariamente aberta sobre suas práticas. Centenas de milhares de executivos de milhares de empresas visitam as fábricas da Toyota no Japão e nos Estados Unidos. Frustrados pela sua incapacidade de reproduzir o desempenho da Toyota, muitos visitantes assumem que o segredo do sucesso da Toyota deve estar em suas raízes culturais. Mas isso não é verdade. Outras empresas japonesas, como a Nissan e a Honda, têm ficado muito aquém dos padrões da Toyota, e esta introduziu com sucesso seu sistema de produção em todo o mundo, inclusive na América do Norte, onde a empresa está fabricando este ano mais de um milhão de carros, minivans e caminhões leves.
Então, por que é tão difícil decodificar o Sistema Toyota de Produção? A resposta, acreditamos nós, é que os observadores confundem as ferramentas e práticas que vêem em suas visitas com o sistema propriamente dito. Isso faz com que seja impossível para eles resolverem um paradoxo evidente do sistema – a saber, que as atividades, as conexões e os fluxos de produção em uma fábrica da Toyota são rigidamente roteirizados ao mesmo tempo em que suas operações são tremendamente flexíveis e adaptáveis. Suas atividades e seus processos são constantemente desafiados e pressionados a atingir um nível mais alto de desempenho, para garantir que a empresa continue a inovar e a melhorar.
Para compreender o sucesso da Toyota, precisamos desvendar o paradoxo – e entender que a especificação rígida é a atividade fundamental que possibilita a flexibilidade e a criatividade. Foi essa a conclusão a que chegamos depois de um amplo estudo de quatro anos do Sistema Toyota de Produção, que se concentrou no funcionamento de mais de 40 fábricas nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, algumas operando segundo o sistema, algumas não. Estudamos o processo de fabricantes discretos cuja faixa de produtos ia desde casas prefabricadas, autopeças e impressoras, até plásticos moldados por injeção e produtos extrudados de alumínio. Além do trabalho rotineiro de produção, estudamos também as funções de serviço, como manutenção de equipamentos, treinamento e supervisão de funcionários, logística e manuseio de materiais, e projeto e reprojeto de processos.
Descobrimos que, para os leigos, a chave é compreender que o Sistema Toyota de Produção cria uma comunidade de cientistas. Sempre que define uma especificação, a Toyota está criando conjuntos de hipóteses que podem ser testadas. Em ouras palavras, ela segue o método científico. Para fazer qualquer mudança, a Toyota aplica um rigoroso processo de resolução de problemas que exige uma avaliação meticulosa do estado atual das coisas e um plano para melhoria que é, na verdade, um teste experimental da mudança proposta. Com qualquer coisa aquém desse rigor científico, a mudança na Toyota seria pouco mais do que um simples método de ensaio e erro – uma caminhada de olhos vendados pela vida.
O método científico está tão enraizado na Toyota que mesmo esse alto grau de especificação e estruturação não fomenta o ambiente de comando e de controle que se poderia esperar. Na verdade, quando observamos as pessoas executar suas tarefas e ajudar a projetar os processos de produção, aprendemos que o sistema realmente estimula os gerentes e seus colaboradores a se engajarem no tipo de experimentação que é amplamente reconhecido como o marco de uma organização que aprende. É isso que distingue a Toyota de todas as outras empresas que estudamos.
O Sistema Toyota de Produção e o método científico que lhe dá fundamente não foram impostos à empresa – e sequer resultaram de uma escolha consciente. O sistema emergiu naturalmente do funcionamento da empresa durante um período de mais de cinco décadas. Em conseqüência, o sistema nunca foi passado para o papel e muitas vezes os funcionários da Toyota sequer conseguem explicá-lo de forma articulada. É por isso que as pessoas de fora acham tão difícil compreendê-lo. Neste artigo, procuramos explicar como funciona o sistema Toyota. Tentamos explicitar o que está implícito. Descrevemos quatro princípios – quatro regras para projetos, que mostram como a Toyota estabelece todas as suas operações como experimentos, e uma regra para melhoria, que descreve como a Toyota ensina o método científico para os funcionários de todos os níveis da organização. São essas regras – e não as práticas e ferramentas específicas que as pessoas observam quando visitam as fábricas – que, em nossa opinião, formam a essência do sistema Toyota. E é por esse motivo que consideramos essas regras como o DNA do Sistema Toyota de Produção. ”
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*na próxima semana postaremos mais sobre as quatro regras do Sistema Toyota de Produção