O mundo não é totalmente gaussiano. Na verdade, ele é muito menos gaussiano do que pensamos. A curva normal, ou curva de Gauss, é frequentemente usada para descrever uma variedade de fenômenos sociais, econômicos e naturais. Ela é uma ferramenta valiosa e tem suas utilidades, mas tem limitações significativas. Não explica tudo, e acreditar que todos os fenômenos seguem uma distribuição normal pode levar a equívocos.
Quando os japoneses dizem que não compram a ideia do Seis Sigma e preferem um bom Gemba, estão destacando a importância do empirismo e da observação direta. O Seis Sigma é uma metodologia que busca minimizar a variabilidade em processos e melhorar a qualidade, baseando-se fortemente em análises estatísticas. Contudo, ele assume que os dados seguem uma distribuição normal e que os desvios são raros e insignificantes. Por outro lado, o Gemba, que pode ser traduzido como “o lugar real” ou “onde as coisas acontecem”, enfatiza a importância de estar presente no local de trabalho, observando diretamente os processos e interagindo com os trabalhadores.
A filosofia do Gemba reconhece que o inesperado pode ocorrer e que estar onde as coisas realmente acontecem oferece uma vantagem crucial. Isso significa não rejeitar os outliers, mas esperar que eles ocorram e estar preparado para lidar com eles. Ao contrário da abordagem puramente estatística do Seis Sigma, que pode desconsiderar os outliers como anomalias a serem eliminadas, o Gemba valoriza essas ocorrências como oportunidades de aprendizado e melhoria.
Entender um processo de acordo com seu comportamento histórico pode ser vantajoso em muitos casos, pois nos ajuda a organizar e reduzir o caos. No entanto, isso também pode nos cegar para a realidade de que nem tudo se comporta de maneira previsível. Se todas as coisas seguissem estritamente o comportamento esperado, todos seríamos milionários, felizes e bem-sucedidos, pois poderíamos prever e controlar perfeitamente todas as variáveis de nossas vidas.
O Gemba é empírico por natureza. Ele envolve a observação direta, a coleta de dados em primeira mão e a interação contínua com o ambiente de trabalho. Essa abordagem empírica é complementada pelo método científico, que busca compreender e explicar os fenômenos através de experimentação e análise. Essa combinação de empírico e científico é onde reside o poder de sistemas de gestão bem-sucedidos, como o Sistema Toyota de Produção (TPS).
O TPS é famoso por sua eficiência e qualidade, e uma das suas características-chave é o Gemba. Quando a Toyota, recentemente, desviou-se do Gemba e começou a focar excessivamente em métricas e números, como market share e PPM (partes por milhão de defeitos), enfrentou problemas que antes não conhecia. Esses problemas surgiram porque a empresa perdeu o contato direto com o chão de fábrica e com os processos reais. No entanto, a Toyota rapidamente reconheceu seu erro e voltou ao centro de sua filosofia: o Gemba. Ao retornar para o “lugar verdadeiro”, a Toyota reafirmou seu compromisso com a observação direta e a resolução prática de problemas.
Essa experiência da Toyota ilustra a importância do Gemba e do empirismo na gestão eficaz. As métricas e análises estatísticas são importantes, mas não podem substituir a compreensão profunda que vem da observação direta e da interação com os processos reais. O Gemba ensina que, para realmente entender e melhorar um processo, é necessário estar presente, observar, perguntar e aprender continuamente.
Além disso, o Gemba enfatiza a importância da adaptabilidade e da prontidão para lidar com o inesperado. Em um mundo que raramente é totalmente gaussiano, a capacidade de responder rapidamente a mudanças e anomalias é crucial. Isso significa não apenas esperar o inesperado, mas estar preparado para ele. O Gemba e o empirismo juntos fornecem uma abordagem robusta para a gestão e melhoria contínua, baseada na realidade e na observação direta, em vez de suposições estatísticas e previsões abstratas.
Em resumo, o Gemba e o empirismo são fundamentais para entender e melhorar processos em um mundo complexo e imprevisível. Eles complementam as ferramentas analíticas tradicionais, oferecendo uma perspectiva mais completa e realista. Ao valorizar a observação direta e a experiência prática, o Gemba nos lembra que a verdadeira compreensão e melhoria vêm do envolvimento direto com o trabalho e os processos, onde quer que eles aconteçam.
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